Segurança alimentar: o caminho do que comemos
Empresas do retalho alimentar apostam em tecnologias como a blockchain para dar mais credibilidade aos seus produtos e garantir que os seus clientes se sintam mais seguros na compra
01 · 02 · 2019
Rastrear o que estamos a comer, desde o cultivo do alimento até à chegada ao nosso prato. Como isso se está a tornar cada vez mais possível e acessível? Por meio das informações proporcionadas pela blockchain.
Em Portugal, empresas do setor pretendem utilizar sistemas ligados à tecnologia para proporcionar aos seus clientes mais segurança na hora da compra.
Informação mastigada
Adaptar os serviços às novas necessidades dos consumidores é uma regra para todos os setores. No retalho alimentar e food service não é diferente. Com clientes cada vez mais conscientes quanto à importância nutricional dos alimentos, a qualidade dos ingredientes e a origem do que estão a comprar, resta às empresas “mastigar” o máximo de informação possível sobre os seus produtos e serviços.
Portanto, ter apenas uma mercadoria segura já não basta. É preciso mostrar às pessoas as razões pelas quais elas podem confiar na marca e no que estão a comprar. Isso tudo de maneira prática, clara e acessível.
Além da exigência dos clientes, é preciso estar de acordo com a legislação relacionada à área da Qualidade e Segurança Alimentar – o website quali.pt que tem um bom resumo de quais são essas exigências; veja aqui. Perante isto, é impossível deixar de destacar a grande vantagem que as tecnologias representam para as empresas.
Do prado ao prato
Todas as etapas de um produto alimentar passam a estar acessíveis, de forma completamente transparente, para os consumidores a partir de um sistema desenvolvido pela startup alemã Te-Food. Os especialistas encontraram uma solução com base na blockchain. A tecnologia permite mobilizar todos os responsáveis pela cadeia alimentar numa mesma plataforma.
A solução encontrada é simples e já é usada há alguns anos para fins semelhantes: um código QR é impresso nas etiquetas dos produtos dos supermercados. O acesso imediato ao conjunto de informações com todo o percurso do produto que estão a pensar em comprar é dado a partir de uma simples leitura do QR code através do telemóvel.
A rede de supermercados que contratou o serviço da startup já fez testes, bem-sucedidos, no Vietname, e agora parte para a escala internacional. A tecnologia será aplicada nos mercados de Portugal, França, Itália, Espanha e Senegal. Em Portugal e no Senegal a iniciativa vai ser aplicada à carne de frango, enquanto em França já se aplica à fileira das cenouras biológicas e, em breve será estendida às batatas e também a carne de frango. Em Itália, os códigos serão colocados nas etiquetas de tomate e carne de frango. Já na Espanha, será na do porco ibérico e frutos exóticos cultivados localmente.
O sistema desenvolvido pela Te-Food vai adaptar-se às ferramentas e recursos de rastreabilidade já utilizados nos diferentes mercados da rede graças à interoperacionalidade entre as diferentes blockchains públicas e privadas existentes.
Tecnologias podem prevenir mortes
Imagem Ilustrativa: Shutterstock.
Ficar doente por causa de alimentos contaminados ainda é uma realidade em todos os cantos do mundo. De acordo com a Organização Mundial da Saúde, todos os anos, a cada 100 pessoas no mundo, uma fica doente devido à ingestão de alimentos infectados por algum vírus, bactéria, parasita ou até mesmo material tóxico.
Na Europa, anualmente, 23 milhões de pessoas ficam doentes pela mesma causa, sendo que 5 mil delas morrem. As doenças intestinais são responsáveis pela maioria das enfermidades transmitidas por alimentos. As infecções por Norovírus representam quase 15 milhões de casos e as por Campylobacter, quase 5 milhões de casos.
A Autoridade de Segurança Alimentar e Económica de Portugal estima que quase 90?s doenças transmitidas por alimentos sejam provocadas por micro-organismos. É um facto que eles estão em quase todos os alimentos, porém, na maioria dos casos, a transmissão de doenças causadas por eles é o resultado do mau uso de metodologias nas etapas finais da produção ou distribuição de produtos alimentícios.
A globalização torna a segurança dos alimentos um processo ainda mais complexo, visto que afeta tanto a economia como a sociedade em geral. Trata-se de um processo que depende da pluralidade de profissionais e segmentos, envolvendo a agropecuária, a indústria, o comércio e a educação da população.
Por isso, a utilização de novos métodos, softwares e outras ferramentas inovadoras que procurem optimizar desde o cultivo de um alimento até a sua chegada na mesa do consumidor, além de possibilitar a difusão da informação sobre todo esse processo, são fundamentais. Tanto os serviços de restauração quanto os de retalho alimentar precisam ter consciência disso. Afinal, com o desenvolvimento de tamanha tecnologia com a qual convivemos atualmente, é inconcebível pensarmos que ainda morrem pessoas por causa disso.