Os novos paradigmas do consumo alimentar
A tecnologia, o online e os alimentos saudáveis estão a criar novas oportunidades no setor de food service
18 · 06 · 2019
Vivemos tempos de forte procura e exigência por parte dos consumidores portugueses, que obrigam as marcas e os negócios a mudarem as suas estratégias.
O novo consumidor está mais racional, mais conectado e exigente com os produtos e as marcas da indústria alimentar e a mudança dos hábitos de consumo deve ser vista pelas empresas não como uma ameaça ao seu modelo de negócio, mas como uma oportunidade para se posicionarem de forma diferente e, proactivamente, tirarem partido de novos segmentos de mercado que permitam expandir a sua base de clientes e aumentar a penetração das suas marcas.
As evoluções registadas no contexto social, económico e tecnológico tiveram um impacto nos hábitos de consumo dos portugueses, que estão hoje mais preocupados com a gestão do orçamento familiar, com a saúde, origem e sustentabilidade dos alimentos.
Posto isto, eis as principais tendências no campo alimentar:
• Preferência por opções mais saudáveis e gourmet. Os consumidores querem escolher aquilo que comem, não só em termos de sabor e combinações, mas também tendo em conta a origem dos alimentos. Mais de 60% dos portugueses afirmam que a preocupação com a sua saúde e bem-estar reflete-se muito no seu quotidiano e nas suas escolhas. Tendem, por isso, a evitar alimentos de menor valor nutricional e a apostar em alimentos biológicos ou funcionais.
• Smart shopping. O consumo é, atualmente, menos impulsivo e mais ponderado, dado que os consumidores estão mais sensíveis ao preço dos produtos. Planeamento e racionalidade fazem parte dos hábitos de consumo e isso é visível no peso crescente das vendas em promoção.
• Mudança nos menus de refeição. Os mesmos menus de há 10 anos não funcionam com os consumidores atuais. O McDonald’s é um bom exemplo disso. A cadeia de restauração soube introduzir novas opções, nomeadamente sopas, leguminosas e frutas, de forma a ajustar-se ao novo perfil de cliente.
• Incremento de soluções de negócio ligadas ao serviço de alimentação. Os super e hipermercados percebem que para competir na área de refeições precisam de apostar em novos serviços, como é o caso da expansão do take-away e da criação de espaços de alimentação. Como consequência, os restaurantes e cafés tradicionais estão a perder terreno.
• Tendência para cozinhas globais, étnicas e sustentáveis. A globalização expandiu-se não só nas cozinhas, mas também no estômago dos consumidores. O interesse e disponibilidade para explorar novos conceitos gastronómicos e para almoçar e jantar em espaços que apresentem uma preocupação com a sustentabilidade é cada vez maior. Metade dos portugueses afirma estar disponível para pagar mais por produtos e serviços prestados por empresas comprometidas em ter um impacto social e ambiental positivo.
• Serviço como principal foco de atração. Esta tendência está relacionada com a utilização de plataformas como a Zomato, The Fork e Uber Eats, como canal de ligação com as gerações mais jovens. Os consumidores querem produtos e serviços mais práticos e flexíveis, tendo em conta o ritmo de vida acelerado que vivem. É por isso que o e-commerce e o take-away são vistos com bons olhos. As soluções de compra e consumo devem ajustar-se à rotina do consumidor.
• Mais e melhor experiência. A interação e experiência ao longo da jornada de compra são cada vez mais valorizadas pelos portugueses. A imagem do ponto de venda, a utilização inovadora de canais de comunicação e a criação de novos momentos de interação com as marcas são alguns dos elementos mais apreciados.
Consumidores portugueses valorizam a saúde
Os consumidores portugueses estão cada vez mais preocupados com a saúde e o bem-estar e procuram adquirir produtos considerados mais saudáveis ou com características que lhes trazem maiores benefícios.
Alguns ingredientes saudáveis são consumidos pelo seu sabor, como é o caso dos mirtilos, do cacau, da hortelã-pimenta, das nozes e do iogurte, outros são uma opção porque os consumidores acreditam que lhes podem trazer algum benefício para a saúde, como por exemplo as sementes de chia, do gengibre e das bagas de goji.
Mais de 70% dos consumidores acreditam na eficácia dos “superalimentos” na prevenção ou tratamento de algumas doenças e mais de metade gostaria de ter mais informação relativamente a estes produtos, de forma a incluí-los na sua alimentação. Para além disso, admitem mesmo que os “superalimentos” podem substituir algumas prescrições médicas. Os portugueses mostram-se especialmente recetivos a este tipo de produtos e a maioria estaria disposta a comprar artigos que incluam este tipo de alimentos.
O açúcar é também uma preocupação para os portugueses, que admitem olhar especificamente para as quantidades presentes em cada produto. O tipo de adoçante utilizado pode, de facto, influenciar a decisão de compra tanto de alimentos como de bebidas.
Em relação ao setor das bebidas, a maioria considera que as quantidades de açúcar existentes nesta categoria são demasiado elevadas e que a redução dessa quantidade poderia ajudar a controlar o peso. Os refrigerantes, que estão cada vez mais associados pelo consumidor a produtos processados com teor em açúcar mais elevado, têm sofrido quebras de consumo nos últimos anos que levaram os próprios fabricantes a repensar estratégias. Por outro lado, os sumos de fruta têm consolidado o seu crescimento ano após ano, beneficiando de uma associação a produtos mais naturais, com menos açúcares adicionados, com mais vitaminas e outros benefícios. Seguindo a tendência, também as águas têm tido dinamismos positivos, sendo cada vez mais vistas como substitutas de bebidas refrescantes em alguns momentos de consumo.
De facto, os consumidores mostram-se mais disponíveis para bebidas saudáveis e assumem que vão passar a consumir menos sumos com sabores, bebidas com gás, entre outros.
Também em relação às crianças, os portugueses demonstram uma preocupação cada vez maior, uma vez que quase 70% considera que anúncios de produtos com alto teor de açúcares não deveriam passar junto à programação infantil.
Há sem dúvida uma atitude positiva em relação a esta tendência mais saudável que está em crescimento e demonstra, por um lado, um aproveitamento de oportunidades, por parte dos fabricantes e distribuidores, deste potencial de negócio e, por outro lado, uma maior consciencialização dos portugueses que apostam cada vez mais na mudança do estilo de vida.
A verdade é que a mentalidade parece estar a mudar e assiste-se a uma transição de um estilo de vida apoiado em dietas pontuais de emagrecimento para a adoção efetiva de um estilo de vida mais saudável e regular, com uma aproximação a uma ingestão inferior de gorduras, produtos com menor teor de sal, menor percentagem de calorias e até alimentos sem aditivos e conservantes.
Os portugueses também estão mais saudáveis na cozinha?
Na verdade, o consumidor português tem demonstrado ter uma personalidade um pouco controversa. Com a mesma facilidade com que procura produtos mais saudáveis, coloca também na cesta alimentos que o ajudam a economizar tempo no seu dia a dia, na tentativa de combater a sensação de nunca sobrar tempo livre. Assim, assistimos a uma era em que tanto cresce em produtos mais saudáveis, como em alimentos preparados que proporcionam ao consumidor refeições já prontas, mas que nem sempre se mostram as melhores amigas de uma alimentação equilibrada.
No entanto, na cozinha dos portugueses ainda predomina um estilo de preparação mediterrânica, com os pratos frios, na sua maioria saladas, como um dos acompanhamentos mais recorrentes, seguidos de refeições cozidas e grelhadas.
As opções de produtos de alimentação saudável também podem ter um potencial crescimento nas refeições prontas, havendo espaço para um consumidor cada vez mais preocupado em adicionar valor à sua saúde e estilo de vida e que, ao mesmo tempo, procura também otimizar o seu tempo disponível, apoiando-se em soluções que através da conveniência e facilidade o ajudam a enfrentar um estilo de vida moderno e agitado.
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