O que vamos comer em 2019?
Insetos e “carnes vegetais” estão entre as grandes tendências dos serviços de alimentação
14 · 01 · 2019
Que tal trocar um cozido à portuguesa ou um bacalhau com natas por uma porção de grilos ou um prato com carne de origem vegetal? Uma pesquisa americana apresentou as tendências alimentares que devem marcar 2019 e revelou alterações significativas nas refeições das pessoas, principalmente na sociedade ocidental.
O estudo revela o que já percebemos: queremos mais das nossas refeições. Por isso, estamos cada vez mais a procurar alimentos funcionais que não só saciem a fome como também garantam um maior ganho nutricional. Além disso, estamos mais preocupados e com a intenção de diminuir o impacto ambiental que os nossos hábitos alimentares podem causar. Então, esforços no caminho da sustentabilidade tendem a mudar a forma como nos alimentamos. Essas mudanças vão desde diminuir o número de embalagens até ao aumento do vegetarianismo e do consumo de “alimentos éticos”.
A preocupação com a saúde e bem-estar resulta em transformações significativas. O surgimento de insetos nos pratos ocidentais é exemplo disso. Muito utilizados na culinária oriental, os insetos contêm proteínas, vitaminas e aminoácidos de alta qualidade para o ser humano e podem deixar as refeições mais nutritivas.
Por outro lado, a preocupação com o ambiente também entra em jogo e influencia a modificação dos hábitos alimentares. Em breve, o vegetarianismo pode deixar de ser uma característica de poucos para tornar-se algo comum. Portanto, não se admire caso entre num restaurante e veja um menu com carnes que não provêm de animais e pratos com insetos.
Afinal, para acompanhar os seus consumidores, a restauração também precisará mudar. A tendência é que chefs adaptem pratos tradicionais e criem novas opções com alternativas mais saudáveis e amigas do meio ambiente.
Alternativas para a carne
Imagem: Divugação.
Alimentação saudável, preocupação ambiental ou amor aos animais. As motivações podem ser diferentes, mas a verdade é que o número de adeptos ao vegetarianismo tem crescido a cada ano. E para dar conta dessa nova procura, também é crescente o surgimento de alternativas aos alimentos provindos de animais. Entre elas estão as “carnes vegetais”, feitas com trigo, soja e outros grãos ou oleaginosas.
Com os hábitos dos clientes a mudar, não resta outra opção à restauração, a não ser adaptar-se. Em Lisboa, a pastelaria Moko oferece croissants de “bacon”, tostas de “queijo” e hambúrgueres de “frango”, tudo de origem vegetal. Isso só é possível porque os empresários Joyce Chi e Renato Lai investem em produtos feitos com substitutos de carne e peixe. O local ainda oferece alternativas congeladas, importadas de Taiwan e da Malásia.
Adaptações como a da pastelaria dos Anjos, em Lisboa, acontecem em diferentes partes do mundo. No Brasil, por exemplo, há até mesmo um talho vegan. O “No Bones”, o primeiro a explorar este ramo na cidade de Niterói (Rio de Janeiro), oferece carnes vegetais congeladas, além de servir pratos muito curiosos. Há, por exemplo, uma picanha vegetal. A aparência do alimento é muito parecida com a carne animal, porém, a peça é feita com arroz vermelho, blend de temperos especiais, fumo líquido e queijo vegan.
Novidades deste tipo podem causar estranheza em quem não consegue pensar numa refeição completa sem carne. Para esse perfil de consumidor, o que os restaurantes estão a fazer é servir novos cortes de carne, aproveitando ao máximo o animal abatido. Portanto, a tendência é que nos menus com carne comecem a aparecer cortes como o ombro, calcanhar ou carne flap (parte debaixo do lombo).
Aceita uma bolacha de grilo?Imagem ilustrativa: Shutterstock.
Os insetos comestíveis passaram a chamar atenção de empresas pioneiras no setor alimentar como uma alternativa para preocupações futuras relacionadas com a falta de alimentos. As vantagens dos insetos são inúmeras, pois vão desde os custos mais baixos na criação, à abundância disponível, passam pelo alto valor nutricional (elevado teor de proteína, fonte de vitaminas do complexo B e sais minerais) e chegam à redução do impacto ambiental. Com isso, a tendência é que os chefs comecem a olhar cada vez mais para este “novo” tipo de alimento.
O mercado dos insetos vai além dos famosos pratos com gafanhotos assados ou fritos. É possível fazer batidos e bolachas de proteína produzidos com farinha de grilo, por exemplo. É tanta variedade que a Arcluster, uma empresa de investigação em Singapura, avaliou este mercado em 87 milhões de euros, com previsão de 1,3 mil milhões de euros em 2021.
Embora seja uma das fortes tendências do setor alimentar e muitas empresas estejam a investir no ramo, há um longo caminho a ser percorrido. Entre as maiores dificuldades está a aceitação das pessoas e a falta de legislação para regulamentar o setor. Na União Europeia, o uso de insetos para alimentação já foi aprovado em alguns casos.
Confeitaria portuguesa
Em Portugal, algumas empresas já começam a investir na área. Quem passar pelo Mercado de Cascais, por exemplo, pode provar os bombons do Chef pasteleiro Francisco Siopa, que começou a vender os doces enfeitados com insetos crocantes.
O profissional costuma usar a larva da farinha, o grilo e o casulo do bicho-da-seda, todos desidratados, para as experiências gastronómicas. Em entrevista para a Notícias Magazine, Francisco Siopa disse que o objetivo é provocar o consumidor com produtos excêntricos, o que tem tido êxito.
Ao que vemos, os hábitos alimentares devem sofrer grandes mudanças a partir de 2019. Agora, cabe a restauração seguir os melhores exemplos e adaptar seu atendimento às novas necessidades dos clientes.