Alimentação saudável: uma tendência em crescimento
Os consumidores estão dispostos a pagar mais por produtos saudáveis e esperam que a indústria os ajude a modificar hábitos alimentares
04 · 03 · 2019
O mercado da comida saudável está a crescer e a internet é a principal “culpada” por esta tendência. As imagens e receitas de pratos saudáveis, biológicos, orgânicos, livres de glúten ou sem lactose ocupam um lugar cada maior nas redes sociais e as marcas estão a tentar dar resposta a essa vontade de comer melhor. Das empresas agrícolas, às indústrias agroalimentares e acabando nas novas fórmulas de retalho, o apetite por esta fatia do negócio está a aumentar.
Apesar de ser um mercado em crescimento, gerir um restaurante de comida orgânica e natural não é fácil porque é indiscutivelmente mais cara do que comida processada. No entanto, é possível ter sucesso neste negócio se vários fatores forem levados em consideração.
Do consumidor que só come produtos orgânicos, sem recurso a químicos, àquele que prefere recorrer a uma alimentação sem produtos processados, a ideia é poder contar com uma oferta gastronómica composta por alimentos no seu estado mais natural e orgânico, pela preocupação com a saúde dos clientes e do planeta em geral.
Um restaurante mais saudável atrai mais clientes
É um facto, se quiser atrair novos clientes está na altura de pensar em tornar o seu restaurante mais saudável. Adaptar o seu negócio aos novos hábitos de alimentação saudável já não é uma moda passageira, mas sim um novo estilo de vida cada vez mais global.
Para isso, é necessário compreender as necessidades e motivações dos clientes que procuram comer e cuidar da sua saúde ao mesmo tempo, para que lhes possa oferecer um atendimento personalizado e conseguir assim uma fidelização à prova de fogo.
O ideal é que possa incluir na sua ementa pratos realizados com produtos saudáveis, orgânicos e diversificados que possam satisfazer todos os perfis de consumidores. Veja como:
1- Ter mais vegetais. Inclua pratos na sua oferta que tenham ingredientes ricos em proteína vegetal como o grão, por exemplo, pois é a forma como os clientes vegans e vegetarianos obtêm os nutrientes presentes na carne animal. Procure também alternativas para os produtos lácteos de origem animal (para os intolerantes à lactose), como os leites vegetais de arroz, amêndoa, soja, na altura de fazer cremes ou batidos.
2- Menos aditivos químicos. Outro grande ponto forte para o seu restaurante seria incluir alguns pratos feitos exclusivamente com produtos ecológicos comprados a um fornecedor de confiança. Os clientes irão preferir estas receitas, pois não contêm conservantes e aditivos químicos presentes na maioria dos alimentos industriais.
3- Doce natural. Um dos ingredientes mais temidos nesta tendência é o açúcar refinado, por isso não é de estranhar que um ou outro cliente insista em perguntar se têm algum prato realmente livre deste produto, não só para evitar as calorias que proporciona como também pelos efeitos prejudiciais para a saúde. Por isso, será muito apreciado dispor de receitas adoçadas de uma forma natural, com frutas ou produtos alternativos como o açúcar de coco ou o melaço de arroz.
4- Sem glúten. Outra tendência cada vez mais generalizada é oferecer pão sem glúten como o de trigo-sarraceno, milho ou quinoa. Comece a oferecê-lo como complemento nos seus menus e verá como cada vez mais clientes preferirão esta opção ao pão de trigo tradicional, já que a sua digestão é mais fácil, engorda menos e é também saboroso. Os clientes celiacos, como seria de esperar, apreciarão em especial este pormenor.
Portugueses mais preocupados com a saúde
A preocupação com a saúde é crescente nas sociedades e economias mais desenvolvidas com o aumento da prevalência de doenças, como a obesidade, diabetes, hipertensão, intolerâncias e alergias alimentares.
Tal como outros países da União Europeia, a mentalidade dos portugueses também parece estar a mudar e assiste-se a uma transição para um estilo de vida mais saudável e regular, com uma ingestão inferior de gorduras e de alimentos sem aditivos e conservantes.
Esta tendência demonstra que há um aproveitamento de oportunidades por parte dos fabricantes e distribuidores deste potencial de negócio e, por outro lado, uma maior consciencialização dos portugueses que vão apostando num estilo de vida mais saudável.
O retalho e a restauração têm vindo a adaptar-se a esta nova tendência através da criação de áreas específicas, como a Área Viva, no Continente, ou de produtos específicos, como os produtos Pura Vida, do Pingo Doce. Este movimento não é recente, sobretudo na restauração. Em 1998 nasceu a primeira loja de fast food em formato saudável, a Vitaminas, do Grupo Multi Food. A Go Natural também já é uma "velha conhecida" dos portugueses, criada em 2004. Mas é mais recentemente que assistimos à eleição de pratos com a introdução de nomenclaturas que valorizam essa perceção.
As marcas também têm contribuído para isso, como a Compal, com o lançamento dos sumos de Pêra Rocha do Oeste ou de Maçã das Beiras, que ajudam a dar um sentido mais natural, de origem e, claro, saudável a estes produtos.
Mais de 70% dos portugueses têm uma alimentação de qualidade, sendo que o valor é superior sobretudo junto dos praticantes de exercício físico e, contrariamente ao que acontece com os hábitos desportivos, mais elevado entre as mulheres.
Os consumidores nacionais procuram adquirir produtos considerados mais saudáveis ou com características que lhes trazem maiores benefícios para a saúde. De entre uma lista de alimentos e especiarias, os consumidores destacam o iogurte, o feijão, a couve, o salmão e o chá, como os produtos saudáveis que mais consomem.
Há ingredientes saudáveis que são consumidos especialmente pelo seu sabor, como os mirtilos, cacau, nozes e o iogurte, e outros porque os consumidores acreditam que lhes podem trazer algum benefício para a saúde, como por exemplo a chia, o gengibre e as bagas goji.
No que diz respeito à compra de produtos, quase 80% dos que consideram importante ter uma alimentação saudável optam pelos supermercados e hipermercados. Com valores mais baixos surgem as lojas especializadas neste género de produto, o comércio tradicional e as feiras ou mercados. Os hiper e supermercados são também os formatos preferidos dos praticantes de exercício físico.
Tendo em conta as necessidades e preferências alimentares mais saudáveis dos portugueses, mais de 90% revelaram estar satisfeitos com a oferta disponível.
No entanto, a Ordem dos Nutricionistas considerou que Portugal tem 40 anos de atraso em matéria de promoção da alimentação saudável, defendendo que é preciso impor mais ritmo e mais intensidade em medidas para melhorar os hábitos alimentares dos portugueses.